Quem nunca ouviu o termo “teatrinho” escapar da boca de alguém que queria agradar ou até te contratar!? Risos com lágrimas.
Essa era uma discussão frequente que eu tinha com a Isa. Sempre que falávamos de - Teatro Empresa - esse termo vinha à tona. A Isa, com seus mais de 25 anos de carreira, já tinha feito muuuuito Teatro Empresa, adquirindo um certo trauma disso e, automaticamente, ao ouvir essas palavras sendo desferidas, disparava um olhar que poderia destruir qualquer coisa que o cruzasse. Risos nervosos.
Quando decidimos atuar com esta linguagem teatral tivemos que falar sobre o “teatrinho” e eu sempre argumentei que tal “ofensa” era por falta de informação ou pouca referência da pessoa que negociava pela empresa e que eu achava interessante a gente propor este tipo de serviço, porém, do nosso jeito. Não vamos fazer por fazer, vamos vender a nossa ideia, do nosso jeito, usando o teatro com protagonismo. Ela duvidava um pouco, mas confiava em mim. Como sempre digo em nossos treinamentos: “não vamos fazer um projeto somente pelo dinheiro, tem que conversar com o que a gente acredita”.
Posso dizer que ao adotar essa postura, perdemos bons trabalhos, mas ganhamos muitos outros! A gente bancou isso, sem prepotência, mas tentando sempre mostrar outras possibilidades que poderiam funcionar, por exemplo, intervenção na hora do almoço para falar de assuntos que os funcionários precisam saber: não funciona! Logo, não adianta pagar uma fortuna que não faremos, mas daremos outras opções e explicaremos o porquê.
Lembro como se fosse hoje de um projeto que estávamos desenvolvendo para hotelaria e turismo (algo inédito até o momento e acho que ainda é, enfim...), depois de muitas reuniões, apresentação pronta, folder preparado, clientes potenciais listados, percebi que ainda tinha gente na equipe pensando nos milhões que ganharíamos... eita!. Ao constatar isso, disse: “olha, eu não tô nesse projeto por dinheiro, a empresa precisa comprar essa ideia” (sempre falo isso para perceber se o projeto vai andar ou não, sempre funciona). De imediato um dos integrantes questionou: “até parece! Se a empresa oferecer 50 mil pra fazer do jeito dela a gente não vai fazer?” – Não - eu respondi. O projeto parou aí.
Agora um exemplo bom: tivemos uma consulta de uma multinacional para fazer SIPAT (Semana Interna de Prevenção a Acidentes do Trabalho) uma procura muito comum e com alta demanda que empresas de teatro e treinamento oferecem. Enviamos uma proposta e logo veio a indagação: “Deivid, como assim? Tá bem diferente do que estamos acostumados” (eles fazem muita SIPAT por terem atividades em todo o Brasil e pelo nível de periculosidade do trabalho). Pedi uma reunião para apresentar melhor nossa empresa e proposta, com muito custo, aceitaram. Propomos falar da prevenção contra acidente através de Shakespeare usando o material de treinamento deles, isso causou um certo espanto e depois de 4 reuniões, finalmente, toparam, mas queriam ver antes.
Veja, fizemos tudo, escrevemos o roteiro, contratamos os atores, ensaiamos, alugamos um teatro e apresentamos para 6 diretores. Ok, aprovados! Ufa e risos emocionados! Apresentamos para os funcionários em São Paulo, foram 4 sessões no teatro e, naquele dia, não teve “teatrinho” na firma, teve um espetáculo de Shakespeare onde todos se identificavam, pois tratava de situações do dia a dia deles.
Ah! A gente adora dinheiro viu?! Só cuidamos para ele não ser mais importante que o teatro. As empresas precisam contratar a gente como ela contrata qualquer outra empresa e o que procuramos fazer é não condená-las, mas sim, adotar uma postura que fala de igual para igual, apresentando argumentos que façam valer o valor que estamos cobrando. Como disse, nem sempre ganhamos, mas seguimos...
Não é fácil, mas é possível.
Deivid Miranda é ator, produtor e diretor na Inima Produções. Não é jornalista e nem sabe escrever, mas como é dono da empresa e ele que faz o site, vai ficar subindo texto no blog.
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