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CULPA TEM CURA?

Cansado da fome espiritual, parti em busca de trabalho, prazer, sexo e logo cedo conheci os prazeres da carne. A autonomia da profissão me possibilitou circular por infindáveis faixas de asfalto, correndo o Sertão e vendendo de tudo a todos: implementos agrícolas e industriais, balanças, bebidas, cigarros, alimentos e toda sorte de produtos lícitos que se possa imaginar.

Entre uma cidade e outra, uma nova paixão. Mulheres altas e baixas, magras e gordas, morenas e loiras, me orgulho em dizer que passei o rodo!

Foi quando Dona Hortência, minha saudosa mãe, já com seus 80 anos de idade, faleceu vítima de um infarto fulminante na noite de natal enquanto preparava o peru para a ceia. Dia triste em minha vida, que me fez buscar minha aposentadoria e viver uma vida mais caseira em meu bairro de nascença, Caeiras aqui em Jacobina.

Foi então que passei a me divertir com amigos de infância na Boate “Caraíbas e Mirante”. Perambular pelas serras do Cruzeiro, do Ouro e do Tombador, frequentar o Mercado Velho enquanto baforava meus 12 cigarros mentolados por dia. Aos finais de semana, degustava um bom uísque Black. Entre uma dose e outra conheci aquela que imaginei ser o grande amor da minha vida, a Ifigênia.

Morena alta, sorriso farto, coxas bem torneadas, ancas largas e de um apetite sexual insaciável, me fez apelar para doses sistemáticas de Viagra e, assim, me deleitar naquele corpo farto e sedento. Íamos com frequência a boate “Caraíbas”, local onde a conheci, sempre encerrávamos nossas noites de sedução comendo saborosas panquecas de frango no restaurante “Villa Favorita”, “O Sobrado” ou no “Rango Bom”.

Os amigos de copo e carteado me diziam que Ifigênia era uma mulher fácil, que saía com outros homens, que não gostava de mim e sim dos presentes que eu lhe ofertava. Chegaram a dizer que ela era garota de programa. Pura inveja, calúnia, pensava eu quando desfilava com aquele monumento pelo calçadão às margens do Rio “Itapicuri-Mirim”.

Eu, Walmir Santana, mais conhecido como Vavá Papão, segundo grau completo, formado no “Colégio Deocleciano Barbosa”, dono do meu próprio teto, sem herdeiros e usufruindo de minha aposentadoria de 2 paus por mês, mais os rendimentos da minha magra poupança, vejo agora minha vida virar de ponta cabeça.

Em dois meses perdi 7 quilos de peso, minhas calças parecem calças de palhaço, brotaram em meu pescoço ínguas e minha boca foi tomada por manchas brancas que sumiram depois de um elixir milagroso que comprei na farmácia “Bom Preço”. Como se não bastasse, manchas avermelhadas apareceram nas minhas costas. Munido de ínguas, magreza, manchas e medo, procurei atendimento médico especializado.

Após breve entrevista com o professor Alexandre Fonseca, fui encaminhado para uma série de atendimentos, mais detalhados, minuciosos, acolhedores e cheios de empatia e sensibilidade.


O primeiro atendimento se deu entre às 08h10 e 08h50, realizado pela doutora Helen Moreira.


O segundo foi conduzido pela doutora Maria Clara e foi das 09h15 até às 09h50.


O terceiro acolhimento aconteceu com os gentis doutores Igor e Israel, se estendeu das 10h10 até às 10h50.


Em seguida, a jovem e solicita doutora Isabel Rios me fez um atendimento repleto de humor e rigor profissional, seu início se deu às 11h20 e terminou às 12h10.


Esta bateria de consultas, exames, diagnósticos, encerrou-se com a chegada do Dr. Philip Brasil, que entre às 12h28 e 13h30, me fez entender que sexo seguro: é sexo com camisinha! Que por trás da estonteante beleza de Ifigênia e de outras centenas de mulheres com quem tive relações - desde que mergulhei neste universo de prazeres iniciado aos 14 anos de idade - poderiam estar danos irreparáveis a minha saúde e qualidade de vida.

Foi detectado que sim, sou soropositivo! Estou infectado pelo vírus do HIV.

O que fazer?

Bateu o pânico, o medo, a impotência, a morte e os fantasmas agora passeiam de mãos dadas pelas minhas janelas, sorridentes e zombando da vida. Da vida que agora preciso repensar, me apoiar nos ensinamentos destes jovens e competentes doutores.

A pergunta que não quer calar e que toma toda a minha mente é:

Culpa tem cura?


Em todos os atendimentos houve feedback.

Não houve filmagens.


Mas tem de haver mais.

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